Brasil : livro analisa jornalismo investigativo

12-04-2010

Acaba de ser lançado, em Brasília – Brasil, o livro Os novos escribas – O fenômeno do jornalismo sobre investigações no Brasil. O livro tem por base a tese de doutorado em Comunicação, defendida por Solano Nascimento, professor na Universidade de Brasília. Segundo o autor, há uma grande diferença entre descobrir uma irregularidade e descobrir que alguém descobriu uma irregularidade. Ele se refere a uma transformação silenciosa – e maléfica – que ocorre no jornalismo dito investigativo no Brasil : não é mais o próprio repórter que desvenda as maracutaias e falcatruas, mas autoridades que têm a obrigação de fazer isso, como policiais, promotores, procuradores e outros agentes de órgãos de fiscalização. Ao jornalista cabe apenas ter acesso àquela fita, ao tal dossiê, ao vídeo comprometedor.
Para detectar essa tendência, o autor observou a cobertura jornalística dos escândalos políticos nas três principais revistas semanais do país – Veja, IstoÉ e Época – em todos os anos em que houve disputa presidencial desde a redemocratização, da eleição de Fernando Collor de Mello, em 1989, à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2006. Com apuro científico e analítico, Solano Nascimento demonstra que a transformação do « jornalismo investigativo » no que ele chama de « jornalismo sobre investigações » é uma realidade incômoda.
Ao abrir mão de investigar por si mesmo, o jornalista fica mais vulnerável ao risco de ser usado pela fonte que passa a informação e pode perder o controle sobre o próprio trabalho. Em outras palavras, o repórter deixa de ser um autor para se tornar um escriba, aquele que resigna a reproduzir a obra dos outros – o que é ruim para a imprensa, e terrível para a sociedade.