« Em imersão »
Colóquio internacional
Jornalismo, sociologia, etnologia, história, literatura, ciência política
Experiências / práticas / representações da imersão em ciências sociais e jornalismo
Rennes, França, 27-29 de novembro de 2013
Organização : CRAPE
UMR 6051
Em associação com o CNRS, a Universidade de Rennes 1, o IEP de Rennes e o EHESP.
Como melhor compreender e descrever um universo social do que mergulhando no núcleo da sua realidade, dividindo a vida de seus atores, observando-a de mais perto possível, dia após dia, e mascarando, calando ou fazendo calar, tudo o que viria da exterioridade da condição de observador ? Há tempos analistas, descrevedores e « contadores » de « mundos sociais » (antropólogos, etnólogos, jornalistas, sociólogos, escritores…) têm defendido o recurso à prática da imersão para apreender aquilo que por outras formas de abordagem ficaria desconhecido ou escondido. Largamente difundidos entre um público pouco familiar das ciências sociais, as narrativas dos jornalistas e dos romancistas, sobre universos sociais frequentemente esquecidos (precários, imigrantes…) ou com reputação de difícil acesso (exércitos, partidos políticos) para os journalistas, constituíram tentativas marcantes para ultrapassar as rotinas da investigação jornalística. Jornalistas nos Estados-Unidos deram novamente respeitabilidade a esta tradição e reveindicam o rótulo de “jornalismo de imersão”. Mas o princípio da imersão conhece também uma atualidade em abundância nas ciências sociais, não sem sucitar – em primeiro lugar da parte dos próprios atores – interrogações sobre o estatuto do observador e o valor específico daquilo que seria desta forma “descoberto” ou “relatado”.
Este colóquio tem como vocação questionar de maneira crítica o princípio da « imersão », confrontando as relações que o jornalismo e as ciências sociais mantêm com essa prática. Se o nome cobre múltiplas realidades (o modo de observação, a natureza do compromisso, o relato da experiência, a tomada de distância) e as finalidades aparecem distintas no jornalismo e nas ciências sociais (o que não foi sempre o caso cf. Robert Park e suas relações com o jornalismo), vemos que muitas experiências se justificam frequentemente em razão da impenetrabilidade de um espaço social e da fecundidade dos conhecimentos adquiridos por este meio. As experiências de imersão sublinham também a conversão durável do observador, de seus pincípios de julgamento e de suas cetegorias de apreensão.
Nós propomos portanto organizar um colóquio de três dias que coloque estas questões em debate, juntando e permitindo trocas entre universitários e jornalistas, com momentos de abertura a um público mais largo.
As proposições de comunicações poderão se formular em torno de três temas ;
Eixo 1 : A imersão, uma velha história ?
Uma história das práticas de imersão ainda está por ser feita. Os nomes de London (The People of the abyss, 1903), Orwell (Down and out in Paris and London, 1933), Walraff (Tête de turc, 1986) em jornalismo e literatura ; de Malinowski (Les argonautes du Pacifique occidental, 1922), de Whyte (Street corner society, 1943), Becker (Outsiders, 1963) ou ainda Goffman (Asylum, 1961) são célebres, mas outras experiências anteriores ou paralelas não tiveram a mesma posteridade. Como, de ontem à hoje, se justificou o recurso a esta prática ? Como estas experiências foram pensadas por seus autores ? Que recepção estes trabalhos suscitaram entre os especialistas ou entre um público mais largo ?
As proposições irão concentrar-se sobre a análise de uma ou mais experiências re-situando-as em suas singularidades, sua história, suas problemáticas em função de ângulos de ataque próprios às diferentes disciplinas (antropologia, história, literatura, sociologia) ou práticas professionais (literatura, jornalismo…).
Eixo 2 : A imersão, que atualidade em jornalismo e ciências sociais ?
Em elo com o eixo precedente, as proposições se interessarão por exemplos recentes em jornalismo e ciências sociais para se interrogar no presente sobre o que está em jogo na imersão. Quais meios, profissões, organizações « imporiam » hoje a prática da imersão ? Quais presupostos estão comprometidos nesta prática ? A imersão permite superar os problemas práticos de observação ? Em que medida a imersão não envia implícitamente, de maneira mais evidente do que outras formas de observação, a uma vontade de transformação da realidade social ?
Eixo 3 : Escrever a imersão
Em primeiro lugar há a questão da escrita. Existem maneiras mais exatas, mais respeitosas para restituir a pesquisa de campo ? O investigador deve ser discreto ou se colocar em cena ? Que lugar dar aos diálogos, às descrições (Geertz), deve-se arriscar o monólogo interior ? Tantas perguntas que são o objeto de debates entre jornalistas (Boynton, 2005) mas também entre pesquisadores. Aqui também as estratégias postas em prática podem variar, do mais explicativo, entre os jornalistas que se reveindicam do « muckracking » (Schlosser, Hallinan nos EUA), a tomadas de perspectiva em prefácios, para outros (A. Nicole Leblanc, L. Dash). Como os especialistas de ciências sociais fazem, face aos custos e ao resultado de formas de escrita mais narrativas ?
As contribuições poderão ser, aqui, retornos sobre experiências de pesquisas, de análises de práticas nas áreas do jornalismo (antigas ou recentes) e de ciências sociais, e questionarão mais largamente a dimensão da escritura em ciências sociais e em jornalismo, das ferramentas mas também das proibições implícitas que definem os modos legítimos e ilegítimos de escrever o social.
Este colóquio internacional será realizado durante três dias em Rennes em novembro de 2013.
Comitê de organização : Géraud Lafarge, Christian Le Bart, Pierre Leroux, Erik Neveu, Roselyne Ringoot, Sami Zegnani.
Comitê científico : Daniel Bizeul, Sociólogo, CRESPPA-CSU ; Didier Demazière, pesquisador CNRS, CSO-Sciences Po ; Eric Lagneau, AFP/EHESS, Instituto Marcel Mauss, Cyril Lemieux, Diretor de estudos no EHESS/LIER Instituto Marcel Mauss, Pierre Leroux, UCO/CRAPE, Nicolas Mariot, Encarregado de Pesquisas no CNRS, CURAPP, Erik Neveu, IEP de Rennes/CRAPE, Dominique Pasquier, diretora de pesquisa CNRS, Escola Nacional Superiora das telecomunicações ; Michael Palmer, Professor emérito, Universidade Paris 3 ; Nicolas Renahy, , Sociólogo, pesquisador INRA,Marie-Eve Therenty, Professor, Universidade de Montpellier III ; Violaine Roussel (socióloga, Universidade Paris VIII).
Modalidades de proposição de comunicação
Língua da proposição : francês, inglês, português.
Língua do colóquio : francês, inglês, português.
A proposição de contribuição deve ser apresentada como segue :
Apresentação das propostas
Sua proposição em formato WORD, ODT ou PDF será enviada por via eletrônica em paralelo a Pierre Leroux ( pierre.leroux@uco.fr ) e Erik Neveu ( erik.neveu@sciencespo-rennes.fr ).
Data limite de apresentação das proposições : 15 de março de 2013
Avaliação das proposições
Cada proposição será objeto de uma avaliação por dois membros do comitê científico.
Os autores das proposições aceitas serão informados por via eletrônica antes de 1° de abril de 2013.